segunda-feira, 12 de abril de 2021

MELHOR, PIOR. PIOR, MELHOR

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

Aquele que convive com pais mais velhos entenderá o que digo.

Eles são representantes da contraespionagem.

Podem falar a verdade em qualquer área da vida, menos quando abordam a própria saúde. Não há como confiar literalmente em seu estado. Pregam peças em abundância.

Tendem a piorar quando não é nada e subestimar quando é grave. Engrandecem o alarme falso e boicotam os chamados sérios.

Se têm uma enxaqueca agem com o acento de um derrame. Se têm uma indisposição já convocam uma coletiva com os filhos para adiantar o testamento. Se sofrem de uma gripe tapam o rosto com cobertor aguardando a caveira encapuzada e a sua foice.

Colocam uma lupa na letra miúda das bulas. Dor de garganta é câncer. Dor nas costas é osteoporose. Dor no ouvido é surdez.

Eu até prefiro o exagero ao menosprezo. Melhor um fóbico a um cético. A prevenção, ainda que errada, continua sendo um cuidado.

Os pais me complicam mesmo ao negar os seus ataques mais contundentes e menosprezar a autenticidade do quadro clínico. Encontram-se à beira da morte e fingem que é uma fraqueza passageira.

A pressão dispara acima dos 23 e procuram me convencer que é  normal e que só precisam descansar um pouco. "É apenas uma tontura, vou tirar um cochilo e melhoro". 

A desidratação avança no Saara da testa e a crise se reduz a um desconforto momentâneo, resultado de algo que se comeu no almoço.

Quando não estão mal querem correr ao hospital. Quando estão mal querem ficar em casa a todo custo. É enlouquecedor. No primeiro caso, julgam os filhos como omissos. No segundo, os filhos são autoritários e pretendem forçar internações.

Não tenho problema com o teatro, não me irrito com a invenção dos sintomas, desgastante é ter que provar a doença para o doente.

Fonte: Facebook

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