domingo, 5 de abril de 2020

FALANDO TCHECO

Estávamos em Praga. Por volta das vinte horas, resolvemos dar um passeio pela cidade, mais precisamente pela parte histórica. Nosso hotel ficava um pouco retirado e necessitávamos ir de Metrô. Isto não era problema, pois estávamos a não mais de cinquenta metros da estação cuja linha passava exatamente por onde queríamos ir. E o melhor de tudo: podíamos comprar os bilhetes no próprio hotel. Só não sabíamos que a venda de bilhetes encerrava as vinte horas. Como tínhamos moeda local, fomos até a estação e aí veio a dificuldade: Como entender aquele conjunto de letras esquisitas estampadas na máquina?

Aproximou-se de nós um cidadão, cujo aspecto não deixava dúvidas de que tinha tomado algumas. Pela linguagem universal da mímica e de gestos inventados na hora, “dissemos” a ele que queríamos bilhetes para tal lugar, indicando a estação onde desceríamos.

O nosso salvador entendeu tudo perfeitamente e mecanizou a aquisição dos bilhetes. Colocamos o dinheiro na máquina, a qual, de imediato, nos respondeu com os bilhetes e com o troco.

Ao agradecermos pela gentileza prestada, também pela linguagem dos sinais, o nosso salvador indicou a linha de metrô de seu destino, o valor de um bilhete, e o pedido de auxílio com o também universal gesto de esfregar o dedo indicador com o polegar.

Entendendo perfeitamente o que ele queria, “dissemos” para ele comandar na máquina a emissão do bilhete que ele queria e colocamos dinheiro suficiente. De posse do bilhete, o cidadão demonstrava agradecimentos que confirmamos sinceros, não pelo sorriso, mas pelo brilho dos olhos que insistiam em merejar...

De posse dos bilhetes fomos para a área de embarque. Soprava um vento forte e frio muito embora já estivéssemos nas galerias do metrô. Passamos os bilhetes nas máquinas próprias e apressamos o passo para ficarmos atrás de uma parede procurando nos proteger do vento, enquanto esperávamos a chegada do próximo trem.

Quase que imediatamente fomos interpelados por um homem que supostamente era funcionário dos serviços de metrô. Ele falava naquela língua que ninguém entende mas pelo modo enfático e até autoritário como nos dirigia a palavra intui que ele desconfiava que nós havíamos adentrado à área de embarque sem os necessários bilhetes. Também "entendi" que ele queria que lhe fossem mostrados os ditos bilhetes. Eureka! Era isso mesmo que ele queria. Em razão de um certo nervosismo atrapalhando os movimentos até encontrá-los pareceu-nos o transcurso de uma eternidade.

Mas nada que um pouco de paciência e sangue frio não resolva. Exibidos os bilhetes, o guarda falou qualquer coisa que me vi no direito de entender como um pedido de desculpas e um muito obrigado.

Logo chegou o nosso metrô no qual embarcamos e fomos ver mais um pouco daquela deliciosa cidade.

Embora uma certa faceirice com as coisas dando certo, no fundo ficou uma réstia de preocupação se acaso tivéssemos que nos explicar mais detalhadamente. Com certeza a mímica ou gestos amistosos não seriam suficientes. Pensando bem, turista é como criança: sempre tem um anjo da guarda cuidando dos seus passos.

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