terça-feira, 30 de março de 2021

REORDENAÇÃO DE PRIORIDADES

REORDENAÇÃO DE PRIORIDADES
Hélio Schwartsman

Temos diferentes lógicas, que se mostram mais ou menos justificáveis

Já escrevi mais de uma vez que é complicado falar em certo e errado quando definimos os critérios de prioridade para a vacinação contra a Covid-19. O que temos são diferentes lógicas que se mostram mais ou menos justificáveis.

O que a maioria dos países acaba fazendo é combinar critérios que priorizam a proteção aos mais vulneráveis, como idosos, com critérios que privilegiam categorias de alta exposição que desempenhem funções essenciais, caso dos profissionais de saúde.

Assim, em condições normais, eu aplaudiria a decisão do governador João Doria de incluir professores e policiais entre os grupos que devem receber a vacina mais cedo. Eles, afinal, estão expostos e exercem funções quintessenciais. Só que não estamos em "condições normais".

O momento epidêmico que vivemos, com grande parte dos hospitais à beira do colapso, cobra uma revisão temporária de prioridades. Se estamos cogitando fechar quase tudo para tentar evitar a superlotação, parece claro que a vacinação também deve buscar esse objetivo.

Trocando em miúdos, estamos numa fase em que faz mais sentido vacinar quem, por idade ou comorbidades, tem maior chance de vir a ocupar um leito hospitalar. Professores e policiais podem voltar para a lista de prioritários assim que o risco de colapso estiver afastado.

Como a vida não é simples, não posso deixar de lembrar que existem complicações na vacinação de pacientes com comorbidades. Se ninguém tem dificuldades para reconhecer um grande obeso, o mesmo não pode ser dito de diabéticos, hipertensos etc. A vacinação desses indivíduos tem de ser feita mediante apresentação de atestado médico, o que, no país do jeitinho e dos favores, pode ser um risco.

Se aparecerem muito mais diabéticos e hipertensos do que o esperado pelos estudos de prevalência, ou o brasileiro excele nas artes da falsificação ou a classe médica terá fracassado na prova de ética.

Fonte: Folha de S. Paulo

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