quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

É HORA DA CBF DAR UM DESCANSO PARA A AMARELINHA

Douglas Nascimento

Brasil deveria adotar temporariamente seu histórico uniforme branco

Com uma coluna pronta para entrar nesta segunda-feira fui surpreendido, como todos vocês, pelo deplorável ataque à democracia que tomou conta de Brasília em 8 de janeiro. Pensei no que poderia escrever sobre este domingo triste que entrará para nossa história e lembrei-me de alguns fatos de nosso passado. Contudo vendo o tuíte da CBF hoje cedo pensei aqui: "É hora de deixar a amarelinha descansar um pouco". Vamos relembrar portanto a a história do primeiro uniforme da seleção brasileira, primeiramente branco e depois amarelo.
Seria a camisa branca "zicada"?

Uma das primeiras coisas que me responderam quando indaguei a alguns amigos sobre a camisa branca da seleção ser adotada temporariamente foi "Ih mas essa camisa é zicada, azarada". Mas será mesmo ou estamos sendo demasiadamente supersticiosos?

A camisa branca da seleção brasileira de futebol foi a oficial por um longo tempo. Era adotada desde a criação do time nacional no já distante ano de 1914. Foi com ela que a seleção disputou amistosos e todas as Copas do Mundo até 1950, aquela copa fatídica e traumática, do inesquecível "Maracanazo". Após esta derrota atordoante o país foi atrás de culpados pelo resultado inesperado e escolheram dois deles como algozes: o goleiro Barbosa e a camisa branca.

Mas seria ainda justo dizer que a camisa branca é realmente azarada? Porque não sei vocês mas eu penso que o 7 a 1 que levamos da Alemanha no Mineirão em 2014 é uma derrota muito mais acachapante que os 2 a 1 que levamos dos uruguaios em 1950.
A origem da amarelinha

Entre a copa disputada no Brasil e a seguinte na Suíça surgiu o debate de um novo uniforme titular para a seleção. Eis que o jornal carioca Correio da Manhã cria em 1953 um concurso para a escolha do novo manto do time nacional para estrear já na Copa de 1954. Entre inúmeros participantes o desenho escolhido foi do gaúcho Aldyr Schlee com seu modelo amarelo com detalhes em verde.

Apesar da empolgação em torno da nova cor da camisa do Brasil a seleção não venceria a Copa de 1954, terminando em quinto lugar ao ser eliminada nas quartas de final. Mesmo em 1958, ano do primeiro título mundial, a camisa vencedora ainda não seria a amarelinha mas a azul, uma vez que a finalíssima fora disputada contra a anfitriã Suécia que também tinha o amarelo em seu uniforme principal.

A amarelinha só seria campeã do mundo em 1962 com a conquista do bicampeonato no Chile e seria consagrada de vez em 1970, no México, com o timaço de Pelé, Tostão, Carlos Alberto e cia.
De símbolo do Brasil a uniforme de golpista

Do tricampeonato de 70 em diante a camisa brasileira eternizou-se e se transformou em um símbolo nacional até mais conhecido do que nossa própria bandeira. Em qualquer canto do mundo a amarelinha é reconhecida rapidamente como do Brasil. Entretanto desde os protestos de 2015 contra a então presidente Dilma Rousseff a camisa brasileira passou a ser desvirtuada e ser usada como o uniforme padrão de protestos da direita.

Mesmo sendo enojante ver a camisa da seleção brasileira ser adotada pelos protestos, era até aceitável pois os protestos eram pacíficos. Entretanto, depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro pra cá, a camisa foi cada vez mais associada a um extrato ruim e violento de nossa sociedade, onde fascistas, terroristas e intolerantes, fizeram da amarelinha o símbolo do pior momento de nossa democracia: o uniforme do golpista.

Acredito que a CBF poderia fazer um golaço se temporariamente suspendesse o uso e a venda da camisa amarela da seleção brasileira. Que usemos novamente a camisa branca, tal qual recentemente fizemos na Copa América 2019, ou mesmo utilizar mais a camisa reserva azul até que golpistas e terroristas sejam punidos duramente e a amarelinha volte a ser o cartão de visitas do Brasil para o mundo e não mais lembrado como uniforme de golpista. Neste momento a camisa branca, com a cor símbolo da paz, é a melhor escolha.

CBF pense nisso com carinho!

Fonte: Folha de S. Paulo

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