
Fabrício Carpinejar
Quantas vezes desperdiçamos a possibilidade de nos apaixonar? Por preguiça. Por desejar de mão beijada. Por desatenção. Por impaciência de um dia ruim. Por perder a fé em nome de sofrimentos anteriores. Por confundir intensidade com pressa. Por negar direitos iguais a todos. Para não parecer bobo de correr atrás de alguém que nem sabe direito quem é.
Imagino que contamos com três chances para reconhecer o nosso amor verdadeiro durante a vida, e olha que ele pode estar bem disfarçado, inclusive daquilo que não gostamos.
São no máximo três casualidades para determiná-lo ou fingir que não existe. Três encontros aleatórios, no escuro, onde o livre-arbítrio duela com o destino. Há quem aproveita o primeiro contato, afortunado de intuição, e vinga o faro à primeira vista. Há quem não repara em nenhuma das oportunidades, absolutamente ensimesmado em suas próprias aflições e carências, jamais desconfiando da enorme coincidência de cruzar com a mesma figura nas mais diferentes situações.
A graça está em não ser avisado. Talvez divida um voo ou um deslocamento de ônibus e, imerso na música alta no headphone, não perceba a importância futura daquela voz perto de sua poltrona. Você pode não responder a solicitação de amizade do seu futuro marido no Facebook, pode nunca dar continuidade ao pedido e a aliança não ser nada mais do que uma pendência virtual. Você pode esbarrar com ele no supermercado e pedir uma informação à toa com a cabeça baixa, deixando de observar a cicatriz no alto da testa que tanto amaria alisar nas horas de insônia. Pode cumprimentá-lo num bar rapidamente, mas a brevidade é insuficiente para as duas pedras do olhos produzirem faíscas - o fogo nasce do atrito e da insistência. Pode achá-lo louco ou antipático ou feio, não traduzindo a hostilidade clarividente do interesse: o incômodo é um sinal de exagerada importância.
Pela visão equivocada de amor desprovido de esforço, exige-se tudo do acaso. Ele garante os encontros com a nossa cara-metade, mas nunca fará o nosso trabalho de conquistá-la. O que gente precisa é apenas de leveza, de uma risada gostosa e de um pouco de romantismo
Todo encontro inspirado é um reencontro. Um flashback do futuro. Realmente conhece aquela pessoa de algum lugar: este lugar é dentro de você mesmo.
Fonte: Facebook
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