sexta-feira, 20 de maio de 2022

MR. MILES


Os inimigos somos nós

Nosso solerte viajante tinha escrito uma outra coluna para seu espaço semanal neste caderno. Mais uma vez, porém, foi ultrapassado pelos fatos. Sua crônica, porém, não está perdida. Vai ser publicada na semana que vem. Agora, porém, os leitores têm dúvidas como esta:

Mr. Miles: como é que podemos seguir viajando com episódios como os desse ano e do ano passado? Estive recentemente em Nice e poderia ter sido uma das vítimas. Contra quem esses bandidos estão brigando?
Marcelo Marcinsky, por email

Wel, my friend: não é o imperialismo; não são as políticas internacionais; não é a França, a Turquia ou os Estados Unidos; não é Israel ou a Santa Sé. Não são os deuses, as crenças ou as ideias; não é o bem ou o mal, o certo ou errado. In fact, os verdadeiros inimigos dos terroristas somos nós, os viajantes. Nós que transitamos com nossas malas, mochilas e livros pelo mundo que nos pertence, olhando para cima ou para baixo, sem preocupação, intimoratos.

Nós que queremos ir daqui para lá. Nós que temos a volúpia de conhecer e conviver. Nós que, ao entender o planeta em que vivemos, teremos a possibilidade de salvá-lo, sooner or later. Nós que estamos abertos a ouvir, aspirar e provar; nós que não falamos em empoderamento, porque só queremos o poder de ver e refletir.

Sobre eles, os que atacam, não importa o que defendam, se são justas ou injustas suas causas, sagradas ou pagãs suas demandas. Eles só querem o que logram: aterrorizar-nos. Fazer com que fiquemos em casa e não recebamos ninguém. Fazer com que, oprimidos pelo medo, não pensemos mais em ir para Nice, Paris, Istambul, Damasco ou wherever. 

Aprendi com o general Montgomery, nosso querido Monty, meu comandante na batalha de El Alamein, que o medo é pior do que a morte.  "A disciplina fortalece a mente, que torna-se impermeável à influência corrosiva do medo", disse-me ele, certa vez. Ganhamos a batalha e a guerra, by the way.

Se os inimigos somos nós, temos de nos disciplinar para vencê-los. Viajantes do mundo todo, uni-vos. Eu mesmo já estou, agora, um dia depois do ocorrido, passeando pela Promenade des Anglais (Passeio dos Ingleses), em Nice. Faz sol. Fiz questão de vir, porque, como o nome sugere, o lugar é nosso, de nossos compatriotas britânicos. A Promenade está vazia, I'm sorry to say. Os dois célebres seios de metal que enfeitam o telhado do hotel Ritz Carlton parecem tristemente abandonados. A alegria estival dessas praias um dia frequentadas por reis e imperadores da Europa está obnubilada. Mas estou aqui e convido-os a vir. Sempre. Em qualquer lugar aonde ajam essas pessoas.

Ontem pela noite conversei com Salman (Salman Rushdie, escritor iraniano radicado na Grã-Bretanha). E ele me disse as palavras que gostaria de repetir ao mundo: “How do you defeat terrorism? Don’t be terrorized." ( "Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorize").  

Só a nossa coragem tornará inúteis essas demonstrações de covardia. Don't you agree?

Fonte: Facebook

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