segunda-feira, 2 de agosto de 2021

CAVERNAS DIGITAIS

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

Ainda não foi inventada uma etiqueta para as redes sociais, mas deveria existir para evitar as sucessivas crises conjugais e estremecimentos em romances. Não há uma normatização do que é certo e errado, do que é desvio ou regra. Ninguém comenta para não soar moralista.

Todo namoro estabelece o que pode ou não pode no início do compromisso, e esquece de incluir uma bússola na navegação pela web. Preocupa-se com a profanação na realidade, e nem um pouco com assanhamentos virtuais.

Urge um padrão de linguagem para prevenir ciúmes e cantadas involuntárias.

Aquilo que você usa com a sua alma gêmea não deve ser banalizado com terceiros, reivindica uma diferença de tratamento.

O que vejo é um swing no WhatsApp, Instagram e Facebook. Uma relação aberta para todos os lados.

Aquilo que um homem envia para uma desconhecida envia também para a sua esposa, o que uma mulher comenta para um desconhecido repete também para o marido.

Qual a graça? O amor vai sendo banalizado e perde a exclusividade a dois, a diferença fundamental da intimidade.

Como as ferramentas são novas, emprega-se a criptografia no atacado e não se percebe as traições secretas e as sugestões de infidelidade. Alguns até não identificam mesmo e espalham generosamente os sinais na mais completa ingenuidade. A maioria tem noção do perigo e se aproveita da duplicidade para fomentar relacionamentos paralelos.

Emoji é palavra, e não merece ser reduzido e infantilizado a um mero desenho. Mantém pretensões de agradar e informar o que estamos sentindo, não é um ato à toa e gratuito. Guarda potência de vontade, apesar de sua caricatura divertida.

Se você está namorando, não será deslealdade mandar para estranhos corações ou rostinhos com olhos de coração saltando? Não é forçar uma aproximação? Não é uma facilitação sentimental?

Se você está casado, não é estranho curtir todas as fotos de alguém? Não traz uma ideia de perseguição e insistência, de claro interesse?

Só porque é uma ilustração não deixa de ser ofensiva. É um cortejo amistoso e disfarçado, mas permanece sendo sedução. Guarda interesses subterrâneos, permitindo a retribuição dos mesmos signos e abrindo a guarda para declarações e juras nas cavernas digitais.

É compreensível a irritação poderosa criada pela exposição nas redes e suas torres de controles.

Só pense com seus botões: se a sua namorada ou namorado já fica em fúria quando vê você online sem responder, imagine quando descobrir que anda trocando figurinhas de "emoji é" com outras e outros?

Mais tarde, mais cedo, um dia será fatalmente printado.

Fonte: Facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário