sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

NO ESCURINHO DO PLANALTO

NO ESCURINHO DO PLANALTO, AMEAÇA À DEMOCRACIA CONTINUA EM ALTA
Bruno Boghossian

Ministro insinua que reação autoritária ao STF é uma carta que está sempre na mesa Bolsonaro

No escurinho do Planalto, o golpismo continua em alta. Conselheiro presidencial e crítico contumaz do STF, o general Augusto Heleno reeditou a avaliação de que a corte tenta "esticar a corda até arrebentar" e insinuou que uma reação autoritária ao tribunal é uma carta que está sempre na mesa de Jair Bolsonaro.

"Eu tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes que são tomadas por esse STF", disse o ministro na formatura de um curso para agentes da Abin, na última terça-feira (14). A fala do general foi divulgada pelo site Metrópoles.

Heleno é um personagem recorrente nos sonhos antidemocráticos dos bolsonaristas. Em 2020, ele publicou uma nota em que ameaçava o STF com "consequências imprevisíveis" caso o tribunal determinasse a apreensão do celular do presidente. General da reserva, ele empresta uma coloração militar aos planos autoritários do chefe.

Na conversa com os agentes da Abin, o ministro jogou lenha no radicalismo político de Bolsonaro e seus aliados. "Um atentado ao presidente da República bem-sucedido modifica totalmente a história do Brasil", afirmou. "Tenho uma preocupação muito grande com esse 2022."

Não se deve ignorar perigos nem baixar a guarda na segurança de um presidente, mas o risco à vida do governante é a desculpa favorita de autocratas interessados em tomar medidas fora dos limites da lei.

O próprio Bolsonaro voltou a explorar, nos últimos dias, a expectativa de conflitos políticos e institucionais. Nesta quarta (15), ele criticou ministros do STF que, segundo ele, "agem contra sua pátria" e disse que vai "tomar uma decisão" se o tribunal rejeitar a tese que limita a demarcação de terras indígenas.

Em outras palavras, Bolsonaro ameaçou novamente descumprir uma decisão judicial –ou, no mínimo, retomar o confronto direto com o Supremo. A ruptura ainda é a principal ferramenta do presidente para agitar sua base radical.

Fonte: Folha de S. Paulo

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