domingo, 26 de junho de 2022

QUANDO AS PLANTAS FALAVAM

 Fernando Albrecht

– Ei! Olhe onde pisa.

O homem que caminhava no gramado olhou para baixo, surpreso. A voz vinha debaixo do seu sapato.

– Nós da família Grama somos fortes. Mas, não precisa abusar!

– Fortes somos nós – gritou o Inço, de longe. – Mesmo botando fogo, renascemos.

– Alto lá! – falou a Palmeira. – Em matéria de resistência ganho longe. Vejam os vídeos dos furacões. Nenhum nos bota abaixo, temos raízes radiculares, para os lados.

– Mas nós Mamoeiros damos frutas saudáveis.

O Gerânio do prédio ao lado falou com voz fininha.

– E nós espantamos mosquitos, nem o aedes chega perto. Perguntem para os franceses porque nos colocam no peitoril das casas.

– Pode ser – trovejou a Figueira Centenária. – Mas eu dou vida, sombra, atraio passarinhos…

– Grande coisa. Além de passarinhos nós damos suco de saúde para os humanos – gritou a Laranjeira.

– O que seriam a saúde e as comidas sem nós? – zombou o Limoeiro. – Até raspas da nossa casca são usadas.

A Goiabeira entrou no papo.

– Meus frutos servem para fazer geleias, doces…

– Cheios de bichos da goiaba. alfinetou o Abacaxi.

– Audácia do bofe – desdenhou o Moranguinho.

– Para comer vocês só com faca – riu a Pitangueira.

– É meu caso – concordou a Melancia com voz grave. Mas todos gostam de mim. Pena eu não ter nascido com alça.

A conversalhada foi interrompida por uma voz maravilhosa vindo da Roseira no jardim ao lado.

– Homens… Todas as mulheres do mundo nos adoram. Qual de vocês pode dizer isso?

O homem estava zonzo. Julgou ter ouvido o Coqueiro gritando “sai de baixo”. Olhou para cima, irritado.

– Chega de papo fura…

Foram suas últimas palavras.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

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