terça-feira, 3 de janeiro de 2023

ROMANCE FORENSE

A primeira audiência, a gente nunca esquece...
Por Enéias de Medeiros, advogado (OAB/SC nº 39.991)

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece. Certamente não esquecerei a primeira audiência trabalhista. E tampouco do estresse da magistrada que preside a audiência.

- Doutor, não sei interpretar essa piada, até porque foi muito mal contada... - diz a juíza.

- Mas, excelência, trata-se da prova do assédio moral. A piada foi dirigida ao reclamante e é de cunho homossexual - refere o advogado.

Ainda indignado por não ver consignado em ata o depoimento da testemunha, o advogado critica:

- Vossa Excelência está muito impaciente!

Imediatamente, a juíza retruca:

- Impaciente está o senhor, intervindo a toda a hora. Num português bem claro, o senhor é muito chato!

E assim prossegue a audiência. A impressão é de que os fatos relatados no ambiente de trabalho, em discussão nos autos do processo, se reproduzem ali, naquela sala fria. Em síntese, um ambiente hostil, sem cordialidade entre a magistrada e os advogados, o que reflete nas partes e testemunhas.

A conjunção me deixa cada vez mais acuado e nervoso, no momento de formular as perguntas aos depoentes. Apesar de que teoricamente, magistrados e advogados estejam no mesmo patamar hierárquico, a juíza deixa transparecer seu ar de superioridade.

Assim, a primeira lição que aprendo é de que, além de se preparar tecnicamente para a audiência trabalhista, o psicológico também deve estar muito bem fortalecido.

* * * * *
Lembro que o contrário de tudo isso foi o que ocorreu na primeira audiência cível. A sessão também presidida por uma magistrada - mas de bom humor, sorridente - fez com que a sala de audiências fosse a extensão de um ambiente familiar agradável.

Sem formalidades, sem toga. As perguntas eram dirigidas diretamente à parte depoente, tudo em paz. Além disso, a juíza, ao não se contentar com as perguntas que o jovem advogado fizera, imediatamente interpela a testemunha, para esclarecer a questão ´sub judice´.

Assim, a conclusão a que chego é de que, alguns magistrados(as) fazem da tão importante sala de audiências, um ambiente para dirimir conflitos, enquanto outros utilizam para gerar novas desavenças, que podem culminar em novos processos judiciais.

Fonte: www.espacovital.com.br

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